Mundo polarizado, sociedades divididas, jornalismo sob ataque, guerras de Twitter, notícias falsas. As pessoas não sabem mais o que é e o que não é verdade, e isso tem afetado seu nível de confiança. Segundo o Edelman Trust Barometer 2018, 58% dos brasileiros não sabem diferenciar fato de ficção; 68% não sabem em quais políticos confiar e 48% estão em dúvida sobre quais marcas devem confiar. A confiança dos brasileiros nas instituições caiu este ano. Ainda de acordo com o estudo, a maior queda ocorreu no Governo, que despencou seis pontos percentuais, chegando a 18%, e na Mídia, que perdeu cinco pontos percentuais, agora com 43%. A confiança nas Empresas caiu quatro pontos percentuais e nas ONGs, três. Ambos estão empatados em 57%.

Nesse cenário aparentemente pessimista, no entanto, uma tendência em particular chama a atenção. Embora confiem menos nas instituições, as pessoas, globalmente, estão mais dispostas a acreditar em indivíduos que, de alguma forma, representam essas organizações. No Brasil, a credibilidade dos CEOs subiu 4 pontos, alcançado os 52%, a dos jornalistas saltou 12 pontos, agora com 47%, e a dos oficiais do governo cresceu 6 pontos, chegando aos 28%. No dia a dia, vemos claramente que as pessoas olham mais para o candidato do que para o partido e mais para as figuras de executivos e funcionários do que para as próprias empresas.

Podemos inferir algumas respostas para essa realidade. Em tempos de dúvidas sobre o que é verdade e o que é mentira, fica mais fácil confiar em alguém de carne e osso do que em comunicados institucionais e notícias de fontes suspeitas ou obscuras, por exemplo. Também parece claro que as pessoas querem, acima de tudo, alguém para responsabilizar, caso algo dê errado. Se uma instituição for corrupta, ou uma notícia for falsa, queremos saber quem está por trás e que o responsável responda por isso.

Nesse cenário de ruptura entre instituições e indivíduos, a figura de líderes, como executivos e CEOs de empresas, se destaca. Além de as Empresas estarem entre as instituições mais confiáveis para os brasileiros, 60% dos entrevistados no País afirmam que os CEOs devem assumir a liderança em movimentos de mudanças, ao invés de esperar que o Governo as imponha. Os entrevistados defendem também que a tarefa número 1 desses executivos é “construir confiança”. Para isso, de acordo com um aprofundamento do Trust Barometer, sobre a expectativa das pessoas nos CEOs, esses executivos devem 1) "Liderar com Propósito"; 2) "Ser autênticos" e 3) "Buscar o apoio de seus funcionários". 73% dos entrevistados no Brasil concordam que os CEOs devem se envolver pessoalmente ao compartilhar o propósito e a visão da empresa, e 72% dizem que eles devem se envolver pessoalmente para discutir o trabalho que sua empresa faz em benefício da sociedade. Alguns caminhos para comunicar autenticidade e estar próximo dos funcionários são ajustar os objetivos da empresa a um propósito claro para a sociedade como um todo, vivendo seus valores, envolvendo questões relevantes, compartilhando suas próprias experiências e observações, evitando discursos corporativos, sempre atento ao que importa para seus funcionários e compartilhando internamente e externamente.

Olhando no retrovisor, a figura do CEO celebridade, que buscava holofotes a qualquer custo e era tão comum nas décadas de 80 e 90, e a do CEO invisível, fruto da grande crise de 2008, ficaram para trás, abrindo espaço para o CEO que “engaja”. Essa é uma ótima oportunidade para esses executivos se tornarem o que chamamos de Chief Engagement Officers, construindo confiança a partir de seus stakeholders. É hora de mostrar a todos que são feitos de carne e osso, querem mudanças e estão trabalhando para isso.

Martin Montoya é CEO da Edelman Brasil.