Tudo o que é sólido desmancha no ar. Ousemos ressignificar a frase de Marx e Engels, já transcendida por Bauman em sua Modernidade Líquida. Nos últimos anos, e cada vez mais intensamente, o que vemos desmanchar-se é o conceito do que uma agência, carregue ela o título de “publicidade”, “relações públicas”, “digital” ou outro, é capaz de fazer.
 
Talvez fosse impensável para uma agência de pouco tempo atrás ter trabalhos concomitantes tão diferentes entre si. Um projeto com criação de música, videoclipe e identidade visual para lançar a plataforma de consumo consciente de um dos maiores grupos cervejeiros do país acontece em paralelo ao posicionamento do CEO de uma multinacional líder em tecnologia, que ampliou o engajamento para stakeholders além da mídia e o transformou em um thought leader.

Um treinamento digital para altos executivos de uma importante bolsa de valores, com a participação de um dos principais influenciadores no LinkedIn do Brasil se realiza enquanto está sendo preparada uma ativação inédita no Morro da Urca para uma das maiores empresas de e-commerce de viagens do mundo.
 
Se ontem estávamos em uma war-room produzindo conteúdo em tempo real para uma conhecida marca esportiva e seus influenciadores, hoje finalizamos campanhas para uma das maiores redes de shopping centers do Brasil, com criação e produção de filme para TV, peças de mall, mídia e redes sociais.
 
Em tempos transitórios, o segredo não é, mas tem sido articular profissionais especialistas de acordo com o escopo de cada projeto, o que faz da agência hoje muito mais um espaço de troca e aprendizado, com limites tênues entre as áreas. Liquefazem-se os muros.
 
Dentro desse cenário tão heterogêneo, o comentário que mais temos ouvido de clientes nos últimos meses é: “nossa, eu não sabia que vocês faziam esse tipo de trabalho”. Sim, vamos muito além das relações públicas. E nós mesmos não sabemos o que ainda seremos capazes de fazer, simplesmente porque amanhã chegará outro projeto único – nada que um conjunto de cabeças milimetricamente combinadas não possa deixar de atender. Não se trata de contratar gente que “faz tudo”, erro que vemos frequentemente em descritivos de vagas divulgadas pelas empresas, mas de afinar formas de conectar conhecimentos. Talvez este tenha sido meu maior ganho ao ter saído de uma grande agência de publicidade tradicional: a possibilidade (e necessidade) de integração com pessoas e saberes outros.
 
Por outro lado, pode ser muito simples: o que fazemos é comunicação. Já nos entendemos globalmente como uma agência de comunicação, que a partir do desafio da marca irá buscar a melhor solução earned creative, seja por caminhos já trilhados ou outros que nos exigirão desbravar veredas em real time.
 
Somos instrínsecos a essa mudança constante pois somos seus agentes. Estas linhas são apenas um retrato efêmero do momento, uma tentativa de deter o fluxo frenético das coisas. Um vapor de lucidez do instante, até que tudo mude outra vez.
 

* Juliana Furtado é Associate Creative Director na Edelman Brasil.