Em muitos aspectos, 2021 foi um ano sem grandes animações, considerando que o mundo ainda lutava contra uma pandemia mundial, eventos climáticos devastadores e tensões políticas. Na verdade, 2021 foi o segundo ano da crise da COVID-19, devastando ainda mais a vida e o meio de sustento das pessoas. Marcou outro ano em que as pessoas temeram perder seus empregos e que as mudanças climáticas continuaram a aumentar. Também marcou mais um ano em que a confiança coletiva  no governo – e na mídia – continuou caindo, em níveis globais, à medida que essas duas instituições alimentavam conflitos e divisões. Consequentemente, o Edelman Trust Barometer 2022 agora encontra a sociedade presa em um círculo vicioso de desconfiança, com quase 60%  das pessoas dizendo que sua tendência é desconfiar de algo até ter evidências de que algo é confiável.

EMPRESAS COMO UMA FORÇA ESTABILIZADORA

Em meio a desafios persistentes, em 2021, as Empresas solidificaram sua posição (pelo quarto ano consecutivo, com 61%) como as mais confiáveis entre as quatro instituições (Governo, Empresas, ONGs e Mídia), com “Meu Empregador” superando todas(77%). Com o governo falhando em liderar os maiores desafios da sociedade, desde mudanças climáticas e requalificação para o mercado de trabalho até justiça racial e informações confiáveis, as empresas têm uma oportunidade única de emergir como uma força estabilizadora essencial. Entretanto, o tempo para fazer isso está passando, e o estudo deste ano ressalta a necessidade urgente de as empresas assumirem essa liderança. A maioria dos entrevistados ainda quer que o governo lidere a vacinação contra a Covid-19, ações de combate às mudanças climáticas, a abordagem da injustiça sistêmica, a requalificação da força de trabalho e a desigualdade econômica. Mas, menos da metade acredita que o governo está se esforçando ou alcançando algum resultado.

Todos os stakeholders querem que as empresas se engajem na busca por  soluções para questões sociais

Ao mesmo tempo, todos os stakeholders esperam que as empresas se engajem para encontrar soluções para questões sociais. Isso faz total sentido: em competência, empresas seguem na liderança contra o governo por por uma margem de 53 pontos de margem e são vistas como mais éticas do que o governo por 26 pontos. Mais da metade dos consumidores comprará ou defenderá marcas com base em suas crenças, enquanto 6 a cada 10 funcionários escolherão empregadores com base em crenças e valores compartilhados. As expectativas são altas para que os CEOs falem publicamente sobre questões sociais e políticas. Mas, falar não é suficiente – impressionantes 81% dos entrevistados esperam que os CEOs liderem discussões sobre políticas públicas ou o que suas empresas têm feito para resolver os problemas da sociedade.

Mas, ao ampliar seu papel nessas questões, empresas correm o risco de “passar dos limites”?

Não, de acordo com nossos achados do Trust. Mas, surpreendentemente, os entrevistados dizem que as empresas não estão fazendo o suficiente para lidar com questões sociais – mudanças climáticas (52%), desigualdade econômica (49%), informações de credibilidade (42%), requalificação profissional (46%),injustiça sistêmica e  acesso à saúde (42%).

Então, qual caminho as empresas devem seguir?

UM NOVO MANDATO PARA AS EMPRESAS 

Muitos podem achar difícil imaginar que 2022 possa se tornar mais um ano de mudanças significativas – em um nível igual ou superior ao que experimentamos nos últimos 24 meses. Mas, se os últimos dois anos nos ensinaram alguma coisa, é que Milton Friedman estava errado sobre o propósito fundamental dos negócios, especialmente no mundo complexo de hoje. Maximizar o lucro dos acionistas sempre será importante, mas para quebrar o círculo de desconfiança, as empresas devem adotar o capitalismo de stakeholders e reconhecer suas obrigações iguais para todos os stakeholders – consumidores, empregados, comunidades e investidores.

Mais especificamente, as empresas devem:

Ampliar a presença de  iniciativas relacionadas a propósito e compromissos com  ESGs no centro de suas  estratégias.

Trabalhar ativamente para abordar os problemas da sociedade, como as mudanças climáticas, zerando o impacto de carbono de suas operações e cadeias de suprimentos, passando de compromissos para ações efetivas.

Apostar em parcerias entre instituições — governo, ONGs e mídia — para criar um terreno comum, promover a inovação e gerar impacto positivo.

Liderar com informações de qualidade e credibilidade, moldando uma comunicação responsável.

EMPRESAS EM UMA ENCRUZILHADA 

CEOs sempre precisaram caminhar em uma linha tênue entre exercer liderança em questões políticas e serem vistos como “extremamente politizados”. Agora, baseado em nossa pesquisa, o risco é fazer pouco, não muito.  

Empresas  têm uma escolha clara. Uma é o caminho de menor resistência, em que líderes continuam olhando para a montanha com a falsa esperança de que outros a subam, resultando em mais cinismo público e perpetuando o círculo de desconfiança. A outra é abraçar o manto da liderança, permitindo que todas as instituições recuperem uma base sólida para ascender na trilha que levará a um futuro melhor para todos. Dessa forma, empresass emergirão como uma força verdadeiramente estabilizadora para a sociedade. Acho que muitos concordariam que o caminho mais difícil é o único caminho que vale a pena seguir.

Dave Samson é vice-presidente global de assuntos corporativos.