Enquanto o mundo avança em diferentes ritmos de vacinação contra a Covid-19, as previsões pós-pandemia permanecem incertas. A crise atual desafia as instituições a agirem diante de inúmeros desafios e as expectativas sobre a resolução de problemas sociais agravados pela pandemia permanecem altas. Desigualdade social, infodemia, injustiças raciais e de gênero, mudanças climáticas e automação do trabalho são problemas que rodeiam um cenário já bastante grave de crise sanitária e econômica em muitos países, inclusive no Brasil.

O relatório especial Edelman Trust Barometer 2021 – Mundo em Trauma aponta as Empresas como a instituição mais competente e confiável do que o Governo. No entanto, o excesso de confiança nas empresas como salvadoras é uma fórmula instável e insustentável, que coloca no setor privado expectativas altas demais para a resolução de problemas sociais amplos e impossíveis de serem alcançadas sozinhas, sem a liderança ou parceria dos governos.

Com trabalho de campo realizado de 30 de abril a 11 de maio de 2021, o relatório é uma atualização do Edelman Trust Barometer 2021, lançado globalmente em janeiro e no Brasil em março. Essa edição ouviu mais de 16.800 pessoas em 14 países: Brasil, Canadá, China, França, Alemanha, Índia, Japão, México, Arábia Saudita, África do Sul, Coreia do Sul, EAU, Reino Unido e EUA (1.200 respondentes/cada).  

Governo ausente e expectativas nas empresas

Atualmente, apenas 37% dos brasileiros afirmam confiar no Governo, o que coloca a instituição no patamar de não confiável. Líderes governamentais também não são avaliados pelos brasileiros como honestos e críveis. Apenas 20% dos entrevistados consideram que os níveis de honestidade e de credibilidade dos líderes do governo federal eram altos há um ano e continuam altos agora, enquanto 13% acreditam que eram baixos e aumentaram e 38% que eram altos e baixaram.

Enquanto isso, o “Meu Empregador” segue como a instituição mais confiável no mundo e, no Brasil, isso não é diferente. 79% confiam no seu empregador, 63% nas Empresas, 57% nas ONGs e 46% na Mídia.

Mundo em Trauma 1

As expectativas em relação aos empregadores, então, vão além do ambiente empresarial. 89% dos empregados no Brasil esperam que seus empregadores atuem para resolver problemas da sociedade em geral. Para 92%, eles devem atuar contra as mudanças climáticas e, para 90%, contra a infodemia e contra o racismo.   

Consequências da pandemia 

Enquanto alguns países já começam a deixar a pandemia no passado, 90% dos brasileiros (65% globalmente) afirmam que ainda “estão pensando como na pandemia”.
Nesse contexto, mesmo os brasileiros que já receberam as duas doses da vacina permanecem preocupados e não sentem segurança para retomar atividades normais.
 

Mundo em Trauma 2

Além do medo do contágio, essa crise trouxe problemas pessoais e coletivos visíveis para os brasileiros. 69% dos respondentes no país classificam o “agravamento de problemas de saúde mental” como o pior efeito da pandemia. Em seguida estão “famílias que têm de lidar com a perda de sua moradia e com a ruína financeira” (68%), “jovens com defasagem educacional” (64%), “piora das disparidades econômicas neste país” (62%) e “perda de trabalhos que nunca serão retomados” (57%).

Infodemia sem fim

A credibilidade das fontes de informação segue dividida. O “meu empregador” (66%) ainda é a fonte de informação mais confiável para os brasileiros. Em seguida, aparecem empatadas “reportagens da imprensa com fontes reveladas” e “grandes empresas”, ambas com 57%; “governo federal” (56%); “publicidade” (55%); “reportagens da imprensa sem fontes reveladas” (46%) e “redes sociais” (40%).
Seguindo forte tendência global, a confiança dos brasileiros nos canais de informação segue em níveis historicamente baixos. Os mais confiáveis são “mecanismos de busca” (65%) e “mídia tradicional” (52%) e as menos confiáveis são as “mídias sociais” (42%).

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Recomendações

  • Atue em parceria   – As empresas mostraram ter um valor inestimável na pandemia, mas não podem solucionar todos os problemas da sociedade sozinhas.
  • Lidere no que tiver expertise – As empresas devem fazer escolhas e liderar no que têm expertise – empregos, qualificação, salários justos e inovação –, além de continuarem tomando medidas de inclusão e sustentabilidade.
  • Clientes e empregados são responsabilidade número um – As empresas devem priorizar clientes e funcionários, seus stakeholders mais importantes.
  • Governo deve liderar em relação aos desafios estruturais – O envolvimento do governo é essencial em questões amplas da sociedade, tais como vacinação, retorno ao trabalho presencial, privacidade, desigualdade de renda e mudanças climáticas.